Somos responsáveis por nossos talentos. Comunicá-los é preciso.
Imaginemos a seguinte situação. Você, uma pessoa assídua, organizada e
boa cumpridora de tarefas, além de ser benquista pelos colegas, está numa
empresa a bastante tempo, tanto que é conhecedora de todos os seus processos
organizacionais. Pois bem, eis que chega um novato para trabalhar com você. Uma
pessoa mais jovem, que se veste antenada na moda, e que, de cara, ficou
“chegada” da chefia, tanto que em pouco tempo lhe entregaram os melhores
projetos.
E você, que estava a muito na empresa, vê que o iniciante, em menos de
um ano, já fora promovido uma ou duas vezes. E olha, nem demora muito, o
recém-chegado se torna seu chefe. E o mais incrível, mesmo você achando injusto
o sistema, é impossível não reconhecer os talentos da pessoa que mal chegou e
já se destacou.
Agora vem a pergunta: o que as pessoas bem-sucedidas têm que você não possui?
E de pronto, a resposta. Nada. Sim, é isso mesmo, nada. Aí você se questiona,
como assim? Será que algumas pessoas já não nasceram com o dom da liderança, ou
tem o gene da esperteza?
Calma, parece ser absurdo pela natureza das coisas, mas o seu chefe, o
dono da empresa, ou qualquer outro empresário ou profissional de destaque, não
nasceu com uma estrela só para eles, que brilha constantemente em seu favor.
Tudo bem que existem os prodígios, pessoas que parecem ter habilidades
fenomenais, mas estes, assim como todos nós, também possuem as condições de
ordem natural e que são impostas pela vida, e que limitam certas possibilidades.
Contudo, o que nos parece dom, trata-se apenas de um ajuste entre o que se
pretende e o que se faz para chegar lá.
Mas note, os que mais se destacam não são estes seres de “habilidades sobrenaturais”.
Os realizadores que mais aparecem são os que moldaram seu potencial com esforço
e dedicação contínua. E geralmente, pode analisar, os mais incríveis são os que
superaram suas limitações, pois entenderam que em qualquer situação, a força
potencial humana existe para ultrapassar limites.
Um leopardo por exemplo tem de conviver com os instintos de um leopardo.
Nós como seres humanos possuímos além do instinto, a consciência, e é esta que
nos destaca. Quando tomamos noção de que, por ordem universal, somos abençoados
pelo livre-arbítrio de pensamento e ações, é que conseguimos enxergar que não
há impossível para as realizações humanas. Basta ver ao derredor quantas
bugigangas funcionais foram inventadas, desde coisas simples e cotidianas, até
aquelas que superam qualquer expectativa.
Vamos nos
aprofundar mais?
Quem me conhece sabe o quanto sou apaixonado por piano, e por óbvio, pelas
inúmeras possibilidades musicais, advindas deste incrível instrumento. E pense
como eu fiquei ao saber que pianistas são as melhores cobaias para se medir
talento, afinal, ou se sabe ou não se sabe executar determinadas músicas.
Em 1992, pesquisadores ingleses e alemães estudaram o que diferenciava pessoas
talentosas daquelas que não se destacam por seus talentos. Para tanto, compararam
pianistas profissionais com pessoas que iniciaram o estudo ao piano, mas que
desistiram. E das 257 pessoas inquiridas, não encontraram nada que as
diferenciasse em possibilidades e condições motoras de aprendizado.
Constatou-se apenas que o tempo de estudo e treino frente ao instrumento, no
grupo de exímios pianistas (os bem-sucedidos) foi em muito, maior do que o
praticado pelos iniciados ao piano (os malsucedidos).
Tudo bem, eu sei que isso você já sabe, que é a prática que aperfeiçoa a
habilidade. Mas, na ocasião, aquela era
a primeira vez que cientistas ensaiaram medir o tempo necessário para que se
consiga notório conhecimento sobre qualquer assunto ou área do saber (por volta
de10 mil horas de estudo e treinamento).
E se quiser saber mais sobre esta pesquisa (em inglês), estou disponibilizando o
link aqui (só clicar).
Suor,
lágrimas e conquistas.
Se quisermos resumir bem como se mede o talento pessoal, podemos afirmar
que a melhor métrica é a “transpiração”. Quanto mais se pratica, maior se torna
a habilidade. E não pense que estamos falando de atividades corriqueiras e
confortáveis. O que determina o talento é o trabalho árduo, na divisa do
exequível.
Chegar na excelência exige esforços além do convencional. A pessoa que
se dedica a excelência fica dolorida de tanto treinar, e é um treino custoso,
mas que aprimora as capacidades mentais e físicas da pessoa. E sabe uma coisa
engraçada, foi evidenciado que ao errar e tentar de novo, é que se evolui
realmente. A próxima tentativa é que fará você, pelo esforço dobrado, ser mais
capaz de acertar.
Anders Ericsson, o responsável pela pesquisa citada neste artigo, disse:
“se você sempre repetir aquilo que já sabe, não há evolução. O ideal é falhar
tentando algo novo e mais difícil”. Ou seja, é superando as dificuldades que as
recompensas surgem, e ser bem-sucedido é uma delas. Portanto, é exercitando
constantemente suas habilidades, que você se torna cada vez melhor e capaz de
alçar voos maiores.
E que a verdade seja dita, aplicar um esforço constante, superando todo
dia um limite, durante dez mil horas, tem de ter muito domínio de si mesmo. Ter de abdicar de prazeres momentâneos por uma
realidade ainda longínqua, por uma possibilidade futura, não é tarefa simples
para ninguém. Ainda mais quando as dificuldades do ir adiante são penosas
demais.
Todavia, e agora vem o “pulo do gato”, uma ajuda e tanto para quem
deseja ter autocontrole, é não ficar cogitando tentações. Querendo ou não, o
foco é um dos diferenciais para a realização do que se deseja. E neste ponto, motivação é tudo. São os
motivados a alguma coisa que mais facilmente deixam as tentações do momento de
lado, em prol de um objetivo futuro. E a motivação mais real e saudável parte
do crer estar fazendo alguma coisa que seja significativa.
Contudo, não podemos ser inocentes de achar que tudo corre como na
teoria, apenas dando um passo atrás do outro, e treinando e treinando até
conseguir. Existem ocasiões onde o talento é deixado em segundo plano, atrás
apenas das afinidades sociais.
Estar no lugar certo na hora certa, ou ser amigo de alguém influente
também faz muita diferença para o sucesso de determinados objetivos. Ajuda
muito àquela indicação ou sugestão de algum conhecido “famanaz” (poderoso e de
prestígio), principalmente em situações onde a disputa não é tão aparente, como
a busca por um emprego, onde diversas pessoas concorrem entre si, mas não
diretamente.
E agora?
Agora sabemos como é aplicar nosso talento de maneira mais eficaz, e
como aprimorá-lo pelo exercício constante. Também compreendemos que a evolução
surge dos limites ultrapassados no caminho da excelência, e que o foco e o
autocontrole de nossas vontades é que nos faz desistir de prazeres imediatos e
menores, por situações futuras e que nos tragam além da realização, um
significado maior para nossa existência.
Assim, que possamos apreender este ensinamento, e pelo exemplo,
demonstrar que nós também somos capazes de ser excelentes, não só pelo
resultado, mas pela compleição do que somos.
Abraços.
Alexandre Fon
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