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A sanidade, entre tantos receios (O julgamento)

 


O julgamento alheio, para muitas pessoas, é um receio fortuito. Ser mal-entendido ou julgado por percepções incoerentes é bastante ruim, mas há correção caso o interlocutor seja paciente e justo. Infelizmente, existem os casos em que a paciência e a justiça perdem espaço para emoções infelizes, tais quais o rancor, a retaliação, a vingança, entre outras.

Relacionamentos amorosos, e até mesmo aquele período inicial onde se pretende conhecer alguém romanticamente, se não forem ajustados e testemunhados, podem ser pontos geradores de conflitos, justamente pela falta de conhecimento sobre o parceiro, incompreensão sobre suas falas e atos e, algumas vezes, por conta da inexistência de caráter pessoal.

Felizmente o mundo é formado por maioria que crê e convive pelo bem ao próximo. Sim, todos julgam e avaliam tanto sua própria conduta quanto as condutas alheias, daqueles que de certa forma tem acesso. Ter opinião e buscar conceituar a relação interpessoal é válida e fundamentalmente reconhecida como meio de obtenção de reciprocidade genuína.

Entretanto, o receio do incompreendido pode se transformar em medo social, ou fobia social, que se caracteriza num transtorno de ansiedade advindo de temor persistente e intenso em relação a situações sociais pelas quais a pessoa pode ser considerada, criticada ou desmoralizada. O pavor social decorre, comumente, de resultado negativo observado ou obtido, pelo qual a pessoa afetada sente frustração ou se vê numa espécie de situação de humilhação ou desmoralização, chegando a se ver, em determinadas situações, perante morte eminente.

Assim, ao entender que receios e medos são sentimentos possíveis numa interlocução ou entre atos humanos, derivados das incompreensões e críticas morais, fica nítido o quão importante e salutar é a observância daquilo que se identifica como sua causa e efeito, bem como o exame da terapêutica e a análise das intercorrências sobre o trato da ansiedade.

Hoje, as emoções estão muito mais evidentes, tão soltas quanto as interações pelas mídias sociais. Praticamente, as amarras que prendiam certas considerações e opiniões não existem mais. O mundo da interação social está mais líquido e imediato, e como dizem, as emoções estão aí para serem sentidas.

E o sentir em demasia tem transformado o ser humano em espécime de laboratórios, sendo-lhe atribuído soluções em forma de drogas lícitas, como ansiolíticos, antidepressivos, soníferos, entre tantos. O não saber lidar com situações adversas, próprias das interações sadias, é causador de infortúnios relevantes e persistentes.

Essa falta de tato, principalmente no contato afetivo entre homens e mulheres, pelas diferenças que há muito deveriam ter sido superadas, incorre pela inabilidade de suprir os afetos individuais e sua interação com o mundo do outro. E por tudo estar tão veloz, ao ponto de aplicativos de relacionamento serem como vitrinas de um centro de lojas, cujos transeuntes as atropelam com os olhos, as pessoas não estão conseguindo olhar para si como seres de convivência por longo prazo, e muito menos, compreender de maneira adulta os pormenores das relações rápidas. Em resumo, por natureza, homens e mulheres querem se sentir valiosos como pedras de diamantes, fortes e duráveis, mas muitos vivem numa despretensão sobre o valor do outro, tratando-o como pedregulho que se dissolve tão rápido quanto areia.

Ainda bem que, sabendo do que foi explanado anteriormente, atribuir a si as potencialidades que lhe cabe, e como consequência, se livrar de amarras emocionais desnecessárias, é bem possível e prático. O principal ponto é fazer uma reforma íntima, evitando o martírio pela culpa, porém com a admissão da responsabilidade por tudo que cativa. Ser responsável é apenas uma habilidade de gerar respostas aos próprios atos, atribuindo para si o cuidado com suas ações e com quem as compartilha.

Entender que a vida continua até que ela não exista mais, que as ansiedades do presente carregam um futuro que não existe, e as pessoas são o que são porque são pessoas, é de vital consideração. Que doenças que acometem o ser humano são respostas da alma coletiva, que objetiva a vida pelo primor do aprendizado, que os infortúnios devidos as incoerências ou maus atos, sejam entendidos como fases relevantes, mas transponíveis pela resiliência e a prudência quanto à terapêutica devida.

Realmente, são raros os que se elevam por pensamentos corretos e tem consigo uma sabedoria nata. A maioria dos seres humanos se conserta de falha em falha, e muitas vezes se faz em remendos pouco duradouros. Mas a superação dos maus instintos concerne tarefa primordial, mesmo que seja preciso retrabalho na execução desta iniciativa.

Portanto, sair da ruminação de pensamentos mesquinhos e medrosos é primordial. Depois, é preciso inserir conhecimento de renovação interpessoal, positivo e qualificado. E estas coisas advém da auto-observação, e da acuidade sobre aquilo que é importante de verdade, a vida como objeto valioso.

Assim, os julgamentos que eram receios fortes, são transformados em escada, prontos para serem pisados e deixados para trás. A opinião de terceiros começará a ser vista como é, um simples apontamento de uma realidade saída da mente e vistas dos outros. Os fatos serão os relevantes protagonistas, impossíveis de não serem notados no cenário de sua vida. Mas atenção, continua o alerta sobre aqueles que sobrepõem emoções infelizes, que conduzem suas ações contra o bom-senso e a verdade. E a verdade é uma só, não dá para viver com medo, porém, superar receios é fase notória da vida.

Aplique justiça e paciência. São estas duas características a mantenedora da sanidade do homem. O humano precisa coabitar entre tantos animais, mas ele, consciente de sua condição, é o único que pode habitar em meio aos seus próprios sentimentos e vontades, de forma racional e justa.

Alexandre Fon

 

 


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